A questão do empoderamento feminino vem sendo discutida na academia e na política a anos, tendo levantado polêmicas e alcançado um nível de organização que garantiu às mulheres, hoje, dentro dos partidos políticos, uma cota mínima de participação. Infelizmente, por falta de compreensão de muitos/as esta discussão, que a princípio pautava-se pela eqüidade de poder entre gêneros, desvirtuou-se a um ponto que hoje reduz-se ao formalismo em momentos de registro de candidaturas.
Depois de muita luta de mulheres e homens para a criação de valores mínimos de participação feminina na vida política, ainda não avançamos no combate ao machismo que ainda estrutura nossos partidos (de esquerda e direita). Majoritariamente as direções ainda são compostas por homens, não estamos inseridos/as, como devíamos, em setores representativos de mulheres no trabalho, não conseguimos aproximá-las da luta cotidiana; e também ainda não as libertamos da principal das amarras que mantêm as mulheres afastadas da vida pública: a responsabilidade com a família, com a criação e educação dos filhos e manutenção do ambiente doméstico.
Entristece-me perceber que por mais que as mulheres tenham mais escolaridade que os homens, ainda recebem salários inferiores pelo mesmo cargo. Argumentos como “não promovemos mulheres a cargos de chefia porque estas são instáveis e sentimentais - portanto menos racionais” ainda aparecem, por mais que os estudos já tenham desconstruído o mito da supremacia masculina calcada na biologia (aquela tese que dizia que o homem é 'naturalmente' mais forte, por isso teria melhor desempenho em determinadas tarefas). Não bastasse essa forma de segregação na vida profissional, as mulheres que despontam como “chefes de família”, ainda sofrem com o acúmulo de jornadas de trabalho, com a deficiência do atendimento nas áreas da saúde, com a falta de creches e escolas para seus/as filhos/as e com a violência que as atinge todos os dias, no trabalho, na mídia dentro das casas, seja ela simbólica ou física.
O Estado violenta as mulheres deixando-as dormir na frente de escolas para garantir uma vaga para seus filhos/as. Violenta-as não garantindo vagas para todas as crianças em creches e fazendo com que estas mães deixem de poder trabalhar fora e desta forma ter sua independência financeira. Violenta nossas meninas pela falta de políticas publicas e ações que de fato, contribuam para evitar uma gravidez indesejada. As mutila negando-lhes o direito a decidir sobre o seu corpo e colocando-as a margem, levando-as ao abandono escolar, e em muitos casos, a morte por complicações devido a abortos inseguros feito sem acompanhamento profissional.
A mídia (e quando me refiro a esta faço ressalvas aos canais de comunicação alternativos e contra-hegemônicos) violenta a mulher ao reduzi-la ao seu corpo, a torná-la objeto de consumo, ao vendê-la como mercadoria descartável, que só tem valor e validade enquanto é jovem e obedece aos padrões de beleza estabelecidos. Implementa verdadeiras ditaduras por meio da moda, controla seus corpos, seus desejos, cria necessidades estimulando o consumo.
Em todo o mundo (inclusive nos países que se auto-proclamam 'desenvolvidos') o índice de morte de mulheres é assustador. A maioria dos casos em que ocorre violência física e sexual contra as mulheres, o agressor é alguem da família ou próximo. O mercado do sexo, do tráfico de drogas e de órgãos é um dos mais lucrativos e usa as mulheres aproveitando-se de sua vulnerabilidade devido a falta de perspectiva de ascensão social através da educação.
Percebendo a complexidade de fatores que somam-se e agravam-se neste quadro, não posso aceitar, como mulher e militante a reprodução deste sistema. As mulheres neste país representam mais da metade da população e precisam neste momento eleitoral saber cobrar de seus/as candidatos/as programas de governo que pautem avanços, que condenem o machismo, a homofobia e o racismo, que entendam no respeito a diversidade a única saída para a efetiva igualdade. As conquistas do movimento feminista nos últimos anos não podem ser jogadas no lixo. Precisamos garantir a continuidade das mudanças, caminhando com rumo certo, rumo a vitória de Dilma e contra a volta daqueles que representam o que há de mais atrasado na nossa política. Eu não quero como presidente um senhor que recomenda ao seu vice que “se for ter amantes, que seja discreto”.
Eu quero votar em quem defende o Brasil para todos e todas, uma guerrilheira, mulher, como eu.
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